Texto Curatorial
Em 2020, quando criamos a Mostra Utopia Pertence a Nós, ela nos veio quase como um gesto de desespero. O isolamento social em meio a Pandemia de Covid- 19 impunha o excesso de pensamento, de angústia e de leitura. Em livros como “O princípio Esperança”, de Ernst Bloch, encontrávamos refúgio para sonhar o futuro, um futuro onde fosse possível mais do que sobreviver, viver. Uma pequena mostra online com filmes convidados por nós foi uma via para propor um esperançar mais coletivo. Juntando a nós mesmos e ao público àqueles filmes não nos sentíamos tão sós e o futuro parecia, enfim, possível.
Quatro anos depois, chegamos à nossa segunda edição. Fora do contexto da Pandemia, mas longe de uma resposta segura acerca do futuro, o mundo apresenta hoje novos e urgentes desafios. Em um contexto em que há quem pregue com tranquilidade que não adianta mais tentar viabilizar a sobrevivência da humanidade em meio às mudanças climáticas, nunca foi tão urgente pensar a Utopia na formulação que aqui reivindicamos: a construção do lugar onde iremos viver.
Para esta segunda edição foi possível propor o nosso tão desejado encontro presencial. A Mostra cresceu e contará com 20 filmes de todo o Brasil divididos em 5 sessões. Abrimos com um programa que trata do trabalho. Entre o trabalho que explora, que mata, atomiza e aliena, encontram-se caminhos para pensar o trabalho em comum, a construção do sonho. Já o segundo programa, foi batizado informalmente de “trair o pacto”, fala do filme “Carne traída”, que expressa o que consideramos ser a liga entre as obras. Trair o pacto com a dor, com a perda da identidade e finalmente conectar-se com o prazer. No terceiro programa, a natureza, os ancestrais e os mais velhos contam-nos histórias para nos lembrar de quem somos. Já no quarto programa somos lembrados através da perda, do luto e do enfrentamento do luto. A memória nos conduz. Por fim, as histórias do quinto programa nos falam do acolhimento, do encontro e do afeto. Histórias de amor de vários tipos.
O conjunto de filmes aqui proposto é um convite. Procuramos unir histórias de todas as regiões do Brasil que nos convidam a olhar o futuro e caminhar em direção a ele. As utopias aqui presentes caminham lado a lado com as distopias, como parece estar sendo a tônica do nosso tempo. Entre estas nuances encontramos caminhos.
Camilla Osório de Castro
Alisson Severino